domingo, 15 de junho de 2008

Faculdades de Jornalismo: fábrica de estrelas?

A cada ano, cerca de 120 instituições de ensino de jornalismo, espalhadas por todo Brasil, despacham ao mercado de trabalho cerca de *5.000 mil jornalistas recém-formados. Destes, um pequeno percentual, a maioria jovens, são absorvidos pelos grandes conglomerados jornalísticos. O que pra muitos é um sonho, já que é fácil encontrar nos corredores das faculdades de jornalismo estudantes relatando futuras experiências de emprego, nas mais renomadas empresas jornalísticas como um grande correspondente internacional, ou ainda, um respeitado apresentador de telejornal. A natureza da profissão coloca o jornalista, dia-a-dia, frente aos principais acontecimentos e perto dos grandes atores sociais que constituem a sociedade, fazendo com que este profissional permeie por diferentes campos da camada social, alcançando um grande grau de reconhecimento e respeito de toda a sociedade. Talvez, este reconhecimento e o 'glamour' que proporciona a profissão fazem com que muitos estudantes de jornalismo, fiquem tão fascinados por esta área; sem contar na bajulação, o assédio de empresários e anunciantes, os convites para grandes eventos e simplesmente, estar nas colunas sociais dos grandes jornais; ajude a tornar a profissão e ser vista por muitos estudantes de jornalimso como uma profissão de glamour e cheia de estrelismo. A tevê, neste caso, por seu poder imagético e encantador; é o local mais apropriado, para muitos que, de fato, almejam se tornar num grande espetáculo da mídia.


São poucos, e cada vez mais escassos, os estudantes que vestem a camisa da profissão, preocupados, de fato, com o social, e que realmente levam a sério este ‘oficio’. Muitos, nem sequer, sabem ao certo, e tem a noção, do que é o fazer jornalístico. Já diriam alguns o ‘quarto poder’. O mais preocupante é o crescimento vertiginoso das faculdades de jornalismo, em todo Brasil, sobretudo, particulares, preocupadas apenas com o lucro, formando milhares de apresentadores robotizados de telejornais, que se acham verdadeiras estrelas midiáticas. Não entendem, que fazer jornalismo, é muito mais do que ser um mero apresentador de telejornal: é transformar a sociedade, é cumprir com papel de interlocutor, de verdadeiro transformador social, que realmente somos. O mais preocupante é que muitas empresas jornalísticas, muitas vezes, ligadas à faculdades, estimulam ou reforçam esse desejo nos estudantes, que além de absorver mão-de-obra barata, ajudam a transformar a profissão num verdadeiro 'balcão de negócios', como diria Lúcio Flávio Pinto. Muitas faculdades investem pesado em equipamentos tecnológicos, grandes e milionários laboratórios de comunicação, e esquecem do mais importante: o fator humano e ético do futuro jornalista. Pouco se vê, a preocupação com a pesquisa; com a humanização, com a intelectualidade; e a crítica dos futuros formadores de opinião. Por mais que a técnica seja importante para o exercício da profissão, o conteúdo de um profissional é necessário e importantissímo; porque é ele, que futuramente, irá trabalhar com os possíveis acontecimentos que poderão transformar e influenciar a vida de uma comunidade, de um país, ou até do mundo, além de fazer o embate para uma sociedade mais democrática. Neste quesito, às faculdades de jornalismo estão longe de apresentar um profissional humanizado, ficando a cargo de cada futuro profissional se conscientizar deste fato. Enquanto pensarmos que a profissão de jornalista é puro e simples glamour, quem perde, somos nós, e a sociedade, que está carente de verdadeiros defensores. Sendo este, dentre outros, o verdadeiro papel do jornalista.


Texto: Evandro Pantoja
* Fonte: Federação Nacional dos Jornalistas - Fenaj